Profetas triviais

Quando o poeta faz oitenta e dois

Já é hora do neto girar a roda gigante

Que não se deixe pra depois

A roda da vida gigante

Besouro Preto

Besouro preto anda beijando a pata-de-vaca 

Não a pata da vaca que anda 

A flor da pata-de-vaca 

Chega se voando se beijando a pata da vaca 

Adora a flor da pata-de-vaca

Luz

Hoje lá estavam eles novamente. Não como luzes baixas de postes altos. Estavam como a linha de luz, de focos de luz, de feixes de luz de rastros. Lua, Júpiter e Saturno

Pomba branca boa no céu 

Ó Deus rosado

Que nasce com esplendor 

No meio das nuvens muda de cor

A pomba branca boa no céu 

Azul do céu do sol

Lá vem o Sol

Beija flor

Beija flor de laranjeira 

Beija flor da semente do melão 

Beija a flor da laranjeira 

Beija a semente do melão, que nasce

Beija a flor da laranjeira

Beija

Sim

Sim, eu ia cortar o capim. Sendo sincero, eu comecei a cortar o capim. Mas só comecei.
Depois, no dia D’esplêndido, vi a semente do capim. Ela me chamou a atenção. Não a atenção vil e cotidiana. A atenção Plena, aquela do dia D’esplêndido.
Porque ali no capim comiam a semente um casal de passarinhos.

Meros Vírus

14 de abril de 2020

Acordei de noite resmungando pelo meu pequeno incômodo, com uma janela ou porta batendo. Fechei as portas e janela do quarto ao lado. Subi as escadas, para fechar a porta de fora da sacada da suíte. Quando adentrei na sacada, dei de cara para eles quatro, escancarados. Tomei um grande choque da Mãe Natureza. Estavam bem alinhados e nítidos como quatros faróis de trem vindo na minha direção: Júpiter, Saturno e Marte. Meia-Lua logo acima. No meio do meu resmungo fui impelido a me calar e simplesmente contemplar a Mãe Natureza. Foi um sentimento forte de pertencimento a tudo Isso, mas também uma insignificância literal, como se fosse um súbito arquivamento meu como poeira cósmica, por deferimento da Mãe Natureza. Uma constatação de que somos meros vírus aos olhos da Mãe Natureza.